quarta-feira, 6 de abril de 2011

DESPEDIDA


Agoniza serenamente a tua face pálida,
Transpira lágrimas tua pele cálida.
Teu corpo me diz: - Adeus.
Teu corpo me diz: - Adeus.

Silêncio perene (melhor acalento).
No entanto, da triste janela vejo
a vida que rege o mundo lá fora.

E me perco.
E te perco no eterno jogo das horas,
há tempos não sei sorrir,
a dor que secou teu riso
deixou cicatrizes no meu.
Tive medo de te perder,
mas agora não sei o que é ganhar.
O fim parece inevitável.
Teu rosto me diz: - Adeus.
Teus olhos dizem: - Adeus.

Seguro as tuas mãos frias de quase sem vida,
mãos que um dia tocaram-me a face
- sentimento caroável inesquecível -
e que, por ora, mal sentem as minhas.

Tuas mãos me dizem: - Adeus.
Tuas mãos: - Adeus.

Ouço batidas na porta.
Abro-a.
Mesmo que eu não quisesse,
entra no quarto o misterioso anjo, aquele que por duas vezes
abraçou Lázaro.
E o anjo macabro, infatigável e infalível,
caminhou até o teu leito,
tomou-te nos braços,
afagou-te o rosto sofrido e moribundo,
olhou-te nos olhos e riu um riso triste.
O riso mais triste que já se viu.

E da janela vejo
que a vida ainda rege o mundo lá fora.
Vejo pela última vez uma luz iluminar-te o semblante.
E o fim da tua dor.
E o fim dos nossos dias.
E o fim da nossa história.
Minha agonia começou
quando tua alma me disse: - Adeus.




(In: O Perfume do Tempo - 2004/2005)



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