sábado, 26 de setembro de 2015

VOAR

Pudesse voar,
voaria por sobre as casas,
por sobre as montanhas,
por sobre os vales, parques e florestas,
perto dos sonhos que se perderam,
acima dos muros e dos solitários.
Depois pousaria nos campos de milho,
nas praças abandonadas,
nos quintais sombrios,
na sorte dos homens,
feito um disco voador.
Anjo meu, Anjo meu,
definitivamente,
me empresta tuas asas! 

[ACORDOABSURDO - Vôgaluz] 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

ESCADA IMAGINÁRIA

Pense nas tuas mãos exaltando o milagre da vida.
Noutra direção os teus olhos contemplam o pão do teu trabalho.
Daqui de onde os meus pés tocam o chão,
sinto o ar mais leve que a tua lembrança.
Talvez o amanhã caia em nossas mãos
feito fruta madura
e nós nos esqueceremos dos nossos medos
quando andarmos nas nuvens.
Um dia encontraremos o jardim onde os girassóis de Van Gogh
brilham mais que o sol.
Lá a felicidade não é de plástico, papel ou metal.
Agora estamos,
daqui a pouco já não estaremos mais.
O amor é o que fica porque enquanto a humanidade se perde em suas guerras cotidianas,
a poesia constrói, degrau por degrau,
uma escada imaginária na direção das estrelas. 

[ACORDOABSURDO - Vôgaluz]

sábado, 19 de setembro de 2015

PLANETA PAZ

É preciso evitar que o leite se derrame
e que as crianças bebam desesperança.
É preciso ter vergonha na cara
e parar de culpar o próximo pelos próprios fracassos.
É preciso ter coragem para encarar o medo.
Até onde eu saiba ninguém se perdeu quando lutou.
Os muros da cidade segregam histórias parecidas,
as conversas de mesa também se parecem,
e toda razão restou inútil,
assim que a inocência foi violada.
As pedras me machucaram bastante
nesta caminhada triste e solitária,
todos os dias eu penso nisso, meu Deus!
Onde está a paz de que tanto precisamos?
Em resposta recebo minha parcela de culpa
pela descrença total nas boas intenções.
Não deve haver flores
nos jardins destruídos
do nosso próprio Armagedon
e nem palavras vagas no livro da vida.
Tantos procuram pela firmação dos seus cultos,
mas este ser defeituoso e incompleto
defende princípios românticos decadentes
carregando sua bandeira puída e desbotada
em prol de todos aqueles que esperam
que um dia este planeta se chame Paz.

[ACORDOABSURDO - Vôgaluz]

terça-feira, 15 de setembro de 2015

HELLMANN'S

Acabou o presunto.
A laranjada é a única esperança
para um estômago cavernoso.
O dia foi longo,
a noite é mais longa ainda,
mas a jarra vazia
- sobre a frígida pia –
explica tudo.
Acabou o leite,
se foi com ele a expectativa líquida noturna.
Acabou o bolo,
o queijo,
o molho,
o beijo,
a sopa fria,
a pizza gelada,
o pudim de milho,
a broa amassada.
Só tem maionese e um pão sobre a mesa,
casamento perfeito
entre o que há e o que se pode.
O estômago agradece
- na humildade –
todo alimento é sagrado
e quando dele precisamos
é que nos lembramos de olhar para o céu e dizer:
Senhor, obrigado por tudo! 

[ACORDOABSURDO - Vôgaluz]