sábado, 31 de março de 2012

SÃO TOMÉ

Acordei no breu da noite
Levantei da cama fria
Perdido na madrugada
A casa estava vazia
Tremendo de desespero
Rezei pra Santa Maria
Nunca quis acreditar
Nas coisas que me diziam
Pediram-me paciência
Que tudo melhoraria
Era questão de urgência
Mentira sobre mentira
Meus olhos viram cansados
A face da hipocrisia
Naquilo que me contavam
Naquilo que me diziam
Alice foi enforcada
No país das maravilhas
A sorte estava lançada
Mas ela não saberia
Que a forca nada mais é
Que uma falsa artilharia
De tudo o que ela pensava
De tudo o que ela fazia
Minha história é diferente
Tem no beijo a primazia
De tudo o que me contaram
De tudo o que me diziam
Mas eu nunca acreditei
Jamais acreditaria
Numa mensagem de paz
Nascida da covardia.

(In: Canções para os intervalos - 2011)

* Pintura acima "a incredulidade de São Tomé", Caravaggio, 1599.

sábado, 17 de março de 2012

NATIMORTOS


Toda dor, cada passo
Todo acaso é de fato
Um menino sem destino
Ou menina pequenina
Que a fumaça traz no vento
Quando abafa um lamento
Um gemido inocente
De quem grita em silêncio.

Mas acorda quem dormia
No reflexo da agonia
Que se chama desespero
E mistura no agridoce
Sabor fresco de alguns dias
Sem canção, sem paixão
Mutilados corações
Adormecidos, natimortos.

(In: Canções para os intervalos)

quinta-feira, 1 de março de 2012

JOANNA

Ela já não tem vontade de viver
Sua mocidade foi tirada à força
O filho desejado nunca existirá
Não divide o seu drama com ninguém
Apenas cinco minutos de crueldade
Destruíram uma vida pra sempre

Joanna não quer mais amar ninguém
Joanna não vai mais à escola
Vai ao psiquiatra sozinha e da janela vê
Que as flores estão mortas no jardim

Na delegacia nada teve importância
Tinha dezesseis anos e nada a dizer
Sobre os seus sonhos interrompidos
Joanna vive presa no seu quarto escuro

E olha a foto do namorado que a deixou
É difícil crer que algo vai mudar
Joanna pensa em suicídio, pois não encontra
Nenhum remédio que alivie a sua dor

Joanna não pode mais amar ninguém
Joanna nunca mais foi à escola
Vai ao psiquiatra sozinha e da janela vê
Que as flores estão mortas no jardim.

(Letra: Vôgaluz Miranda / Música: Wagner Miranda - ano 1993)