sábado, 26 de novembro de 2011

HERÓIS


Não existem heróis, assim entendo.
Heróis são criaturas passageiras,
são ídolos talhados em madeira
com os rostos marcados pelo medo,


criados pelos métodos inúteis
das vaidades humanas enrustidas,
tolas finalidades vãs e fúteis
dos homens da verdade corrompida.


Heróis acordam cedo e vão à luta,
não conhecem derrotas ou vitórias,
merecem melhor vida por inteiro,


conhecem a firmeza da labuta,
não precisam de estátuas ou de glórias.
Heróis? Prefiro o povo brasileiro.

  

Obs 1.: In "O Perfume do Tempo - 2004/2005

Obs 2.: Poema apresentado na 17ª edição do Concurso de Poesias Prof.º Fábio Teixeira

sábado, 19 de novembro de 2011

RETRATO DA VIDA


Eu vi um homem deitado numa calçada
com os olhos fechados.
Parecia dormir.
Sonhava como todos nós sonhamos,
talvez com dias melhores,
talvez com um pouco de sorte.
Provavelmente passara a noite ali,
acompanhado pelas vigilantes luzes dos postes
e por bêbados vadios,
poderia ser também um deles,
apenas mais um bêbado vadio abandonado pela vida.

As marcas no rosto fatigado daquele homem
e os sulcos profundos na pele grossa
denunciavam história ocultas de uma vida,
derrotas,
vitórias,
segredos eternos,
quem sabe,
filhos,
irmãos,
uma mulher amada ou
um grande amor perdido na estrada.
Mas ali, naquela calçada, não havia ninguém,
só ele,
só.

Eu vi um homem deitado numa calçada,
já não era homem,
era um farrapo,
era de plástico,
papel rasgado,
era de lixo,
era um flagelo
dentro da sociedade e ao mesmo tempo
fora dela.
Talvez vencido pela modernidade,
pelo mundo moderno,
pela vida moderna,
monstruosidade intrínseca.

Eu vi um homem deitado numa calçada.
Mas vi também quando ele se levantou,
arrumou seus poucos pertences numa sacola surrada
e caminhou sozinho pela rua
à procura de outra chance.
E, por um instante, lembrei-me do encanto de Carlitos.
São tantos os encantos.
São tantos os desencantos.
São tantos os Carlitos.
Meu Deus!

(In: O Perfume do Tempo - 2004/2005)

domingo, 13 de novembro de 2011

JARDINEIRO


meu bom jardineiro
as rosas são frágeis
formigas são ágeis
e eu sou como sou

à sombra das árvores
nasce a erva daninha
canta uma andorinha
curando meus males

meu bom jardineiro
se as rosas são frágeis
e as formigas ágeis
eu sou o capim
quase sorrateiro
por entre o jardim

meu bom jardineiro
deixe-me sozinho
como um passarinho
em busca de paz
em busca de ninho

por flores boçais
voam borboletas
pousam em soleiras
deixando lá atrás
uma vida inteira

questiono tranquilo
jardineiro amigo
qual flor é mais bela
seria o jasmim?
seria a camélia?

jardineiro amigo
responda pra mim
poderei um dia
descansar contente?
acho que seria
talvez meio assim
muito comovente
de tão diferente
morrer no jardim.

(In: Canções para os intervalos - 2011)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

TEM DIAS


Tem dias que a gente pensa na vida
Nos livros
Nos versos
No mar...

Tem dias que a gente pensa na gente
No amor
No sol
Na dor de amar

Tem dias que a gente pensa na saudade
Quem foi
Quem vai
Tantos amigos

E tem dias que a gente tem vontade de morrer.

(In: Canções para os intervalos - 2011)