quinta-feira, 20 de novembro de 2014

SEPARAÇÃO

De dois fica um...
De três não ficam dois.
De três fica um... e meio.
Sim, porque a outra metade
Jamais estará completa...
A vida... A vida é uma casa repleta de portas e janelas,
A gente pensa espreitar o mundo pelas frestas,
Mas cabe a cada um abri-las, saudando a claridade,
Ou trancá-las e na escuridão dormir o sono de todo tempo.
Submeto meus delírios a todos os que já sofreram incompreensão
E deixo no ar o inevitável sabor da separação,
Pois, quase sempre, de dois fica um...
Pra cada lado.

Vôgaluz Miranda - Revocê - 2014

sábado, 15 de novembro de 2014

ECOSSISTEMA

Brasil,
de cada árvore que morre no teu solo,
morre um pouco do teu povo
e de toda a humanidade.

Vôgaluz Miranda - Revocê - 2014

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O Semeador

Lanço um punhado de sementes contra o vento
Há em meus olhos primaveras de saudade
Quero que a chuva considere-se importante
E que meus sonhos não se percam no futuro

Pássaros voam pelo sol do meio-dia
Enquanto eu penso numa nova juventude
A boa terra representa toda gente
Lava-me as mãos com meu suor no sacrifício

De arar os campos na tristeza de um sorriso
Ouvindo as vozes dos fantasmas redivivos
Neste silêncio decadente e imperfeito
Moinhos velhos na inércia não mais giram

Olho pro céu e observo o vão milagre
De ter a brisa ressurgida nas sementes
Novas pessoas, novos sonhos, novo amor
Um brilho intenso de esperança e muita paz

Neste chapéu que um par de olhos bem cansados
Guarda da luz, calor do sol, meu rosto queima
O meu tesouro está no cheiro dos morangos
Das framboesas, dos melões e melancias
   
Quero rezar ajoelhado sobre a terra
Uma oração que traga nova vida aos homens
Que Deus dê forças pra este velho esperançoso
Que das sementes brote a nova humanidade

Poema: O Semeador - Revocê - 2014 - Vôgaluz Miranda
Pintura: O Semeador - Vincent Van Gogh - Arles - França - 1888

domingo, 5 de outubro de 2014

Nação sem Noção

Dirão: “Que poeta louco!
O que este tolo escreverá?”
E eu, me fingindo de morto,
Deixo a loucura vazar
Sobre a doença sem cura
Dos loucos que pensam ser sãos,
Neste país sem cultura
Que insistem em chamar de Nação.

Nação sem Noção - Revocê - Vôgaluz Miranda - 2014

sábado, 13 de setembro de 2014

PEQUENA

Pequena,
os hipócritas na sala de espera têm sorrisos amarelos,
mas você me fortalece com sua atenção.
Passo dias inteiros a me lembrar do seu rosto
e noites a fio a pensar no futuro.
Pequena,
os inimigos estão a postos,
são tanques de guerra contra nossos corações.
Nós somos flores e eles flutuam sobre o nosso jardim.
No entanto, o magnetismo do seu carisma
fez de toda a artilharia inimiga versos de um poema.
Pequena,
quando eu não podia mais caminhar
você me levou pra bem longe e tudo o que eu queria era voltar
pra ver novamente a minha vida nos seus olhos.
E agora, de cara lavada, tento ter coragem pra pedir
- pela última vez-
pra você cuidar de mim.
Pequena,
você é grande demais!

Vôgaluz - Revocê - 2014

domingo, 3 de agosto de 2014

O Chamado

Se ouvires a voz do amor
na rua cheia de casas onde moras,
corre depressa até a janela,
depressa, depressa, depressa...
acene, gesticule, grite para o amor!
Caso contrário,
ele pode dobrar a próxima esquina
ou descer a primeira ladeira que encontrar pela frente
e nunca mais passar na tua rua.

Vôgaluz - Revocê

sábado, 5 de julho de 2014

ALGUNS POEMAS

Alguns poemas descem as escadas do céu em busca do inferno;
São azuis ou sombrios como os sonhos das virgens cheias de vontades;
Tecem as roupas de vento com as quais o destino se veste;
São tristes formas de dizer “Adeus”.

Alguns poemas fazem as malas e param na porta de saída jurando amor eterno;
Outros se vão para nunca mais;
Se molham na chuva dos teus olhos;
Se atrevem na noite em busca de paz;
Acolhem almas em conflito.

Alguns poemas são gás lacrimogêneo contra a multidão;
Abortam filhos que morrem de medo da escuridão;
Precisam de camisa de força;
Precisam de camisa de vênus;
Servem para ninguém ler.


Alguns poemas, assim como este, jamais deveriam ter sido escritos.


"Alguns Poemas" - REVOCÊ - Vôgaluz - 2014

quarta-feira, 2 de julho de 2014

ANA


eu precisava de você na quarta-feira do dia
10 de outubro de 1984
primavera

enquanto meu rosto menino
sentia coisas de menino

e minha pele transpirava paixão de gente grande

precisava de roupas coloridas
de óculos escuros
de tudo o que nunca tive
inclusive você
não de roupas usadas
não de calças doadas
nem do tênis bamba cabeção
que eu morria de vergonha de usar
em meio a comentários do tipo:
“não tenho coragem”

e lá vinha você cheia de broches do Menudo
com a novela das 8 na ponta da língua
e meu coração na sola dos pés

eu mendigava um pouco de atenção
de um par de olhos altivos
que sabiam me desprezar como ninguém
ah! como eu era bobão

você gostava tanto daquela música
do grupo Grafite
até cantarolava: mama maria
mas eu gostei mais da outra: fantasia
e do clip do Paul MacCartney
era tão bonito
“no more lonely nights”

rabiscava seu nome nas minhas pernas
tatuagem imaginária
estupidamente patética
e minha paz nas suas mãos

você foi embora e nem se despediu
tudo bem, levei algum tempo para descobrir
que eu precisava de você
que eu realmente precisava de você
a milhares de quilômetros da minha vida.

ANA'N'80'S - REVOCÊ - Vôgaluz Miranda