quinta-feira, 23 de junho de 2011

VIOLINO


Chora violino no final da festa.
Festas são alegres, cheias de gente.
Violinos são tristes e solitários,
Com serenidade propagam no ar
Canções de um tempo distante,
Canções felizes,
Canções tristes,
Violinos são sérios e autoritários.

Chora violino no final da festa.
Festas são como relâmpagos na tempestade
- Rápidas e iluminadas -
Você, violino, é o céu que permanece escuro,
A noite que vai dentro de mim.

Chora violino no final da festa.

Meu sonho de menino
Era ter um violino.
Achava tão bonito
O seu jeito violino.
Agora envelheci,
Aprendi o seu mistério,
Ninguém pode ser dono
Do que não cabe em si.
Porque você está
Nas notas espalhadas
Da música que em paz
Invade nossas almas,
Que sem pedir licença
Exige e impõe respeito,
Seu ritmo vibrante
Caminha contra o vento.

Chora violino no final da festa.
Carrega no seu som um pouco desta dor,
Que sufoca este peito,
Que assombra este espírito.
Mata-me aos poucos com toda propriedade.
Leva-me pra bem longe da melancólica saudade.

Chora violino, é tudo o que me resta.
Chora violino,
Chora no final da festa.

(In: Canções para os intervalos - 2011)



sábado, 11 de junho de 2011

NOSSA SENHORA DA POESIA


Nossa Senhora da Poesia,
Rogai pelos poetas em humilde condição,
Rogai pelos amantes da poesia,
Também pelos poetas que não sabem o que são.

Mãe de toda Inspiração,
Tocai na dimensão exata cada palavra,
Ajudai na construção de cada frase
E mostrai-nos a poesia contida no simples.

Nossa Senhora da Poesia,
Aliviai-me a angústia de todo dia,
Alertai-me para o som de cada melodia
E acolhei-me nos teus braços,
Para que eu morra
- feliz da vida -
No último verso desta oração.

(In: Canções para os intervalos - 2011)



quarta-feira, 8 de junho de 2011

QUANDO A POESIA VOLTAR


Quando a poesia voltar
Debruçado na janela
Sei que esperarei por ela
Numa noite de luar

Quando a poesia voltar
Cantarei versos sacanas
Espalhando sobre a cama
O compromisso de amar

Quando a poesia voltar
Enxugarei minhas lágrimas
Preencherei minhas páginas
Com algo bom de contar

E entre noites mal dormidas
Entre o céu e o inferno
Vivi momentos terríveis
Que pareciam eternos
Sem ter você do meu lado
Sem ter você nos meus versos
Rezei pra Deus proteger
O seu sorriso sincero
De todo mal rebelado
Nada mais pude escrever
Nunca mais pude sonhar
Saltaram do meu passado
Versos que fiz pra você
Perdidos no meu caderno

Desisti de tantas coisas
De alguns poemas risíveis
Mas sei que o amor vencerá
Nos corações mais sensíveis
Nos sentimentos dispersos
Quando a poesia voltar

(In: Canções para os intervalos - 2011)



domingo, 5 de junho de 2011

INVEJA


Se a palidez do luar te fizer suspirar
E relembrar o que se perdeu na estrada
É hora de parar e agradecer...

Agradecer aos que enlouqueceram
Em busca da paz em que acreditavam.

Aos palhaços que sorriram submersos
Na mais pura tristeza.

Àquela paixão que nos mata sem querer.

Ao cego amor que ainda causa inveja.


(In: Versorragia Verborrágica - 2006/2011)



sábado, 4 de junho de 2011

PAI ZIZA


O preto velho alertou,
o preto velho falou,
“para quebrá a macumba:
junta sal, guiné e arruda.”


O preto velho falou,
o preto velho alertou,
“para quebrá a mandinga:
põe vela, pimenta e pinga.”


O preto velho me disse,
o preto velho que insiste,
“para vortá sia sorte
que ocê cum nada se importe.”


O preto velho insiste,
o preto velho me disse,
“para sará desta dô
que ocê arranje otramô.”

(In: O Perfume do Tempo - 2004/2005)