terça-feira, 10 de março de 2015

ORELHA SECA

Orelha seca escutas tudo o que não te diz respeito! Atrás das portas, na vizinhança, calada da noite, à luz do dia. Muitos são os segredos que tanto ouviste e que ninguém contou. Orelha seca, amiga da boca torta, enorme, tagarela, decodificadora da mensagem distorcida da vida alheia, és como esponja absorvedora do desconhecido, viras do avesso cada destino. Orelha atenta, seca e insensível é melhor que escutes bem para não te equivocares no entendimento do que não interessa para tanta gente, mas para ti, orelha orelhuda, o que mais interessa é o que não devia. Orelha gigantesca, presunçosa, bagunceira, pilantra, te finges de mouca, ponteando cada palavra sussurrada no fundo da tua parede auditiva, bisbilhotices mais que necessárias. Orelha de pelo, de lã de carneiro, deixe minha vida em paz, deixe meus segredos serem secretos, sabias que um dia Van Gogh não a quis? Tá me ouvindo, orelha seca? Tá me escutando, porra? Tá me escutando, porra? ... Hein?
[Revocê - Vôgaluz Miranda]