domingo, 20 de março de 2011

BOM DE BOLA


Aqueles homens e seus bonés
observavam à beira do campo
– o popular “camps” –
de terra batida
uma partida de futebol
dos meninos que vinham
com sede de bola
de todas as partes
de todos os reinos
pés firmes no chão
e sonhos no coração
de repente
aquele negrinho franzino
recebeu a bola
na linha divisora do campo
e com o pé esquerdo
– primeiro toque –
direcionou a menina
entre as pernas do adversário
então
correu até a faixa direita do “camps”
e com dois cortes
– tipo navalha –
deixou dois adversários
sentados na poeira
ali mesmo no barro
atrevido que só ele
partiu em direção à área
entortou o zagueiro
despachou o goleiro
e no último contato com a bola
num toque
– não mais que sutil –
balançou a rede (que não havia)
a partir daquela tarde
aqueles homens guardaram
debaixo de seus bonés
a única certeza:
aquele menino era
bom de bola.


(In: Versorragia Verborrágica - 2006/2011)


Obs.: A ilustração acima "Muleque" foi gentilmente cedida pelo artista Fernando Raposo (fernadoraposo.blogspot.com).







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