domingo, 8 de maio de 2011

ALGO SOBRE A EXISTÊNCIA

As formigas seguem seu caminho
E os homens seguem sem destino
Outros caminhos.

Pode ser que a palavra valha mais quando calada
Não escrita
Não dita
Apenas sentida
No ar que se respira.

O ponteiro do relógio ao alcance dos dedos
Aponta para o tempo,
Como um cego que toca o vento
Em meio à escuridão.

Eu que não entendia nada da vida
Desci às portas do inferno
Onde o fogo cozinhava meus calcanhares
E meu cérebro vegetal fervia
Enquanto eu corria
Corria
Corria
Sem sair do lugar.

Logo ali, naquela rua de terra,
Mora um velho contador de histórias
Contador de dinheiro
Contador de lorotas
Colecionador de problemas
Colecionador de derrotas
O velho é bem esquisito e se chama
Arrependimento
É casado com uma mulher que se chama
Culpa
E tem
Um filho chamado
Remorso
Êta velho danado! É tão forte. Nunca morre.
Só se esconde, enquanto pode.

Olho ao redor da cidade
Vejo o esplendor e a claridade
Sinto que o temor e a fatalidade
Lembram Salomão e a vaidade
Dentro das cabeças
Marchantes
Esperançosas
Sob a sombra da bomba atômica
Como pombas atônitas.

Os pássaros e as árvores
Combinam com dias de sol
Os livros e as lembranças
Combinam com dias de chuva
A vida tem muitos dias de chuva e poucos
Dias de sol
É sempre difícil dizer adeus a quem amamos.

O jogo continua
Os dados estão na mesa
Os fatos escapam da Mother Jones
E caem na próxima esquina.
Um olho grande observa
O espetáculo da vida
Cambaleante
Atrevida e ainda
Estupidamente
Viva.

Alguém grita lá do fundo do poço
Todo arranhado
Com água até o pescoço:
Onde fica a porta de saída?
Sem saber que todas as portas
Estão fechadas
Todas as frases foram ditas
Enquanto você descansava
Feliz da vida
Lendo uma crônica
Sob a sombra da bomba atômica.

 (In: Versorragia Verborrágica - 2006/2011)


2 comentários:

  1. Hermoso paseo a lo largo de este jardín decorado con palabras.

    Saludos, Foto y Luz

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  2. Cito os seguintes versos especiais. Vamos aos blogs e ao conhecimento. Abraços poéticos, Yayá.

    "Pode ser que a palavra valha mais quando calada
    Não escrita
    Não dita
    Apenas sentida
    No ar que se respira."

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