domingo, 1 de maio de 2011

SONRISAL

Toque com as mãos
 a piedade humana,
vontade profana
de um jovem cristão.

Tábua ressecada,
o amor se resolve
em pequenas doses
de frases safadas.

Consomem as aves
da fruta madura,
leve-me às alturas
fria espaçonave

e perto do céu
me lance no mar,
pro sonho acabar
em gotas de mel.

Teu rosto aparece
no branco papel,
contorno pastel
que só me envelhece.

Martele pesado,
coração partido,
verei destruído
todo o meu passado.

A fé que é descrente
de riso atrativo,
vive como alívio
das coisas pungentes.

O amor que perece,
coroa dourada,
só no fim da estrada
a vida amanhece.

Meu corpo envelhece,
não tenho opção,
o tempo é a razão
que mais enobrece.

As pedras que rolam
nos dias de sol
e em cada farol,
crianças esmolam.

Palhaços fugidos
de um circo lotado
não serão retratos
de um mundo esquecido?

As dores derretem
as lágrimas gélidas
da mente inerte
de formas esféricas

das pedras na praia
das rodas de samba
do voo das raias
em Copacabana.

Processo infinito
da criação divina,
estátua em granito
de face maldita,

de todos os erros,
das desilusões,
dos velhos enredos,
das tristes lições.

As doces vinganças
de um tempo banal
derretem lembranças
como sonrisal.

(In: O Perfume do Tempo - 2004/2005)


 

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