domingo, 5 de junho de 2016

O poeta


O poeta trabalha na penumbra da noite 
transformando palavras em elementos do ar. 
A estranha figura, ao acaso por acaso, 
define os assombros das portas que se abrem 
à frente de cada fracasso, de cada decepção.
O poeta não existe!
É um fantasma social.
No entanto, ele insiste!
Para o bem ou para o mal.
Andando pelas ruas feito uma besta humana,
mendigando atenção,
procurando carinho e levando bofetadas,
suplicando um sorriso das caras mais feias,
o solitário andarilho sonha com um tapete voador
de palavras cruzadas,
que lhe leve um pouco da dor que sente no coração.
E nesta tentativa frustrada,
o poeta se empenha em ser a própria poesia perdida,
um traço do amor que já não existe,
a gentileza banalizada pelas vaidades de olhos cansados,
num mundo belo,
estranhamente belo,
e triste demais.


[ACORDOABSURDO parte II - Vôgaluz] 


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