sábado, 21 de janeiro de 2012

SÃO PAULO

 Nota do poeta: Este poema foi escrito em 2004, recentemente (07/01/2012) eu tive a honra de apresentá-lo no Sarau "A Plenos Pulmões" da "Casa das Rosas". Para mim, declamar este poema, cuja intenção é de apenas prestar uma homenagem a esta cidade brasileira extremamente problemática e complexa, mas ao mesmo tempo fascinante, foi uma experiência incrível. Declamar São Paulo em plena Avenida Paulista teve um gosto especial. Abraços ao poeta Marco Pezão, que com simpatia e carisma conduz tão bem o Sarau "A Plenos Pulmões". São Paulo, parabéns por mais um aniversário. Saudações a todos, Vôgaluz. 
São Paulo
que jamais espera.
São Paulo
que nunca se entrega.
São Paulo,
cidade de sonhos.
São Paulo,
frágeis e medonhos.
São Paulo,
não me desanime.
São Paulo
que não se define.
São Paulo,
sigo o teu destino.
São Paulo,
faça-me menino.


Cidade de ferro,
de concreto e aço,
nada de mais belo
há no teu espaço
que o teu homem moço,
que o teu velho triste,
neste ledo esboço
nada mais existe.
E formosa segues
pelas sujas ruas
de cuidados breves,
e as cabeças nuas
do povo que ferve
no teu clima louco,
mas ninguém se atreve
a perder teu jogo.
És locomotiva
do país febril,
bem pouco atrativa,
natureza ardil,
amo-te São Paulo,
cidade teimosa,
corro os teus asfaltos
na luta engenhosa.


São Paulo,
trem de Adoniram.
São Paulo,
muita fé pagã.
São Paulo
de Mário de Andrade.
São Paulo,
qual a tua idade?
São Paulo
do Ibirapuera.
São Paulo,
filhos de quimeras.
São Paulo,
Lapa e Liberdade.
São Paulo
de Oswald de Andrade.


Cidade onde tudo
é força motriz,
não colhes do fruto,
preferes raiz,
o teu destempero
merece atenção,
caminhas no peito
da população.
Exalas paixão,
cidade aclamada,
em cada estação
há filas paradas,
no teu pobre esbulho
de fé verdadeira,
demonstras orgulho
de ser brasileira.
Princesinha eclética,
cidade difícil,
construção poética
dos teus edifícios,
tua gente heroica
vive empedernida
nesta lida exótica
pelas avenidas.


São Paulo,
do centro expandido.
São Paulo,
mundos divididos.
São Paulo,
Itaquera e Mooca.
São Paulo,
saudosa maloca.
São Paulo,
quero o teu divã.
São Paulo,
Ira de Titãs.
São Paulo,
vou ficar aqui.
São Paulo,
cadê Rita Lee?


Velha espaçonave
nada dirigível
teu desterro grave
é teu combustível,
os teus nordestinos,
teus italianos
sofrem desatinos
nos teus desencantos.
Os teus japoneses,
os teus libaneses
e outros povos mais
no teu solo em paz,
vida que não pára,
todo dia igual,
o tempo ultrapassa
o teu carnaval.
Midas hipotético
de existência crônica,
sussurro profético
da orquestra sinfônica.
Natureza insólita
de sangue e suor,
tua paz hipócrita
será bem melhor.


São Paulo...  São Paulo...  São Paulo...


Vivo São Paulo.
Amo São Paulo.
Saúdo São Paulo.




(In: O Perfume do Tempo - 2004/2005)

6 comentários:

  1. Como diria Tom Zé:

    Porém com todo defeito
    Te carrego no meu peito
    São, São Paulo, meu amor
    São, São Paulo, quanta dor
    .

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  2. Abraços ao amigo Fred Caju e obrigado pela lembrança deste hino paulistano cantado pelo grande Tom Zé. Vôgaluz

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  3. Olá :)
    Tô passando pra te mostrar o meu novo blog, http://artenarotina.blogspot.com
    Ele é uma forma de jornal virtual completamente voltado pra cultura; então vale a pena seguir e conhecer ótimas dicas de livros, filmes, músicas e artistas!
    De qualquer jeito, mt obg pela atenção

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  4. Obrigado, Camila. Boa sorte com o seu novo blog. Abraços. Vôgaluz

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  5. Caro;
    Li este poema e sua introdução. Imagino sua emoção, pois, a Casa das Rosas, é um lugar que toca profundamente... Em plena Paulista entrar naquele jardim... Foi um dos pequenos reencatamentos que tive, parabéns! O poema é forte e representa bem a persona desta cidade... que, não sei bem o por que, amo. Mas, amor não se explica mesmo... Não definiria este meu amor também. Abs

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  6. Obrigado, Cristiane, pela gentileza do comentário. Gostei de saber que você também esteve na Casa das Rosas. Abraços. Vôgaluz

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