domingo, 11 de setembro de 2011

ENOLA GAY

Quando as lágrimas secas nos rostos
Misturarem-se às pedras no chão,
Sentirei que a saudade em repouso
Inventou em mim outra canção.

E a canção não contava com a vida,
Era de ossos, poeira e vingança,
Não ficou destruída a lembrança,
O meu fim é o teu nome, querida.

Dos que somente plantavam flores
Desintegradas na ventania
Restou bem pouco de quem jazia
Nas mãos mundanas dos teus senhores.

Nunca, jamais reconhecerei
Qualquer palavra sem sentimento,
Qualquer bandeira sem fundamento,
Em teu silêncio, Enola Gay.

 (In: Versorragia Verborrágica - 2006/2011)

11 comentários:

  1. Obrigado, Maria Marluce. Abraços. Vôgaluz

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  2. Meu amigo e poeta Vôgaluz, que belo e comovente poema! Teus versos expressivos muito me envolveram então só me resta te dar os PARABÉNS!

    Grande abraço Õ/

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  3. Muitíssimo obrigado pela gentileza do comentário e da visita, Mestre Bruno Gaspari. Realmente "Enola Gay" é um poema comovente, o dia 11 de setembro é um dia trágico para todos nós, mas que o mundo também não se esqueça da dor e do sofrimento que a imbecilidade causou a Hiroshima e Nagasaki. Abraços. Vôgaluz

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  4. Boa noite, amigo!
    Que belo poema, comovente sim, nos faz lembrar a imbecilidade, a ganância de poucos que levaram muitas vidas inocentes.
    Abraços

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  5. Obrigado, Zélia Cunha. É... acho que deveríamos criar um dia mundial para que nos lembrássemos de todas as imbecilidades praticadas pela espécie humana e em respeito a tantas vidas ceifadas sem motivo algum. Abraços. Vôgaluz.

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  6. Sobre o poemeto Enola Gay, vale dar seguimento com
    "A Bomba Atômica" de Vinicius de Moraes

    e=mc2 Einstein;
    Deusa, visão dos céus que me domina
    ...tu que és mulher e nada mais!
    (Deusa, valsa carioca.)
    I

    Dos céus descendo
    Meu Deus eu vejo
    De pára-quedas?
    Uma coisa branca
    Como uma fôrma
    De estatuária
    Talvez a fôrma
    Do homem primitivo
    A costela branca!
    Talvez um seio
    Despregado à lua
    Talvez o anjo
    Tutelar cadente
    Talvez a Vênus
    Nua, de clâmide
    Talvez a inversa
    Branca pirâmide
    Do pensamento
    Talvez o troço
    De uma coluna
    Da eternidade
    Apaixonado
    Não sei indago
    Dizem-me todos
    É A BOMBA ATÔMICA.

    Vem-me uma angústia.

    Quisera tanto
    Por um momento
    Tê-la em meus braços
    A coma ao vento
    Descendo nua
    Pelos espaços
    Descendo branca
    Branca e serena
    Como um espasmo
    Fria e corrupta
    Do longo sêmen
    Da Via Láctea
    Deusa impoluta
    O sexo abrupto
    Cubo de prata
    Mulher ao cubo
    Caindo aos súcubos
    Intemerata
    Carne tão rija
    De hormônios vivos
    Exacerbada
    Que o simples toque
    Pode rompê-la
    Em cada átomo
    Numa explosão
    Milhões de vezes
    Maior que a força
    Contida no ato
    Ou que a energia
    Que expulsa o feto
    Na hora do parto.

    II

    A bomba atômica é triste
    Coisa mais triste não há
    Quando cai, cai sem vontade
    Vem caindo devagar
    Tão devagar vem caindo
    Que dá tempo a um passarinho
    De pousar nela e voar...
    Coitada da bomba atômica
    Que não gosta de matar!

    Coitada da bomba atômica
    Que não gosta de matar
    Mas que ao matar mata tudo
    Animal e vegetal
    Que mata a vida da terra
    E mata a vida do ar
    Mas que também mata a guerra…
    Bomba atômica que aterra!
    Pomba atônita da paz!

    Pomba tonta, bomba atômica
    Tristeza, consolação
    Flor puríssima do urânio
    Desabrochada no chão
    Da cor pálida do helium
    E odor de rádium fatal
    Lœlia mineral carnívora
    Radiosa rosa radical.

    Nunca mais, oh bomba atômica
    Nunca, em tempo algum, jamais
    Seja preciso que mates
    Onde houve morte demais:
    Fique apenas tua imagem
    Aterradora miragem
    Sobre as grandes catedrais:
    Guarda de uma nova era
    Arcanjo insigne da paz!

    III



    Bomba atômica, eu te amo! és pequenina
    E branca como a estrela vespertina
    E por branca eu te amo, e por donzela
    De dois milhões mais bélica e mais bela
    Que a donzela de Orleans; eu te amo, deusa
    Atroz, visão dos céus que me domina
    Da cabeleira loura de platina
    E das formas aerodivinais
    – Que és mulher, que és mulher e nada mais!
    Eu te amo, bomba atômica, que trazes
    Numa dança de fogo, envolta em gazes
    A desagregação tremenda que espedaça
    A matéria em energias materiais!
    Oh energia, eu te amo, igual à massa
    Pelo quadrado da velocidade
    Da luz! alta e violenta potestade
    Serena! Meu amor, desce do espaço
    Vem dormir, vem dormir no meu regaço
    Para te proteger eu me encouraço
    De canções e de estrofes magistrais!
    Para te defender, levanto o braço
    Paro as radiações espaciais
    Uno-me aos líderes e aos bardos, uno-me
    Ao povo, ao mar e ao céu brado o teu nome
    Para te defender, matéria dura
    Que és mais linda, mais límpida e mais pura
    Que a estrela matutina! Oh bomba atômica
    Que emoção não me dá ver-te suspensa
    Sobre a massa que vive e se condensa
    Sob a luz! Anjo meu, fora preciso
    Matar, com tua graça e teu sorriso
    Para vencer? Tua enérgica poesia
    Fora preciso, oh deslembrada e fria
    Para a paz? Tua fragílima epiderme
    Em cromáticas brancas de cristais
    Rompendo? Oh átomo, oh neutrônio, oh germe
    Da união que liberta da miséria!
    Oh vida palpitando na matéria
    Oh energia que és o que não eras
    Quando o primeiro átomo incriado
    Fecundou o silêncio das Esferas:
    Um olhar de perdão para o passado
    Uma anunciação de primaveras!

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  7. Obrigado, Luis! Tem também a "rosa de hiroshima" do Vinícius de Moraes, cujo tema é semelhante, mas o poema "Enola Gay" fala também do amor entre mãe e filho, e da imposição estúpida do envio de crianças à guerra. Abraços. Vôgaluz

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  8. Caro Vôgaluz, boa lembrança a da "rosa de hiroshima",que pede a inserção de um som com a voz de Ney MatoGrosso
    Abs luminescentes

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  9. Sem dúvida, Luis. A música "rosa de hiroshima" é uma das canções mais belas da MPB, um casamento perfeito entre poesia e música, tem também "canteiros", do Fagner, que eu acho fantástica. Abraços. Vôgaluz

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  10. Acabei de ouvir Canteiros. Fenomenal. Grato pela dica. Abraços

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