quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A CIDADE

A cidade desperta
Impulsiva
Concreta
De olhos arregalados.

A cidade desperta
Cheia de dentes.

Lá estão os prédios
A sujeira dos pátios
As praças sem grama
A vida sem grana
Todos os carros
Cães e gatos
– Abandonados –
Os pés apressados
Os fios e os postes
Os fracos e os fortes.

E quem diria que a cidade
Seria pra sempre cidade?

Lá se vão os sonhos
De cimento e de pedra
Sobre a desprezada periferia
Futebol na favela.
Mas quem preferiria
Partir de mãos abanando
A morrer sem nada, lutando?

A cidade
Às vezes mãe
Às vezes madrasta
Vê suas casas erguidas
Pelos que não têm casa
Pelos que não têm futuro
Pelos que não têm nada.

A vida segue desbaratinada
Sobre o asfalto
Pelas fachadas
Cheias de fumaça
E os homens
E os seus uniformes
Escolas
Igrejas
Cemitérios
Repletos de mortos
Com outros mortos em volta.

O lixo das calçadas
Refletido no luxo das vitrines
Nos carrinhos de pipoca
E nas bicicletas.
Perto da roda-gigante
Alguém se atirou da ponte.
Nos teatros
Nos cinemas
E nas livrarias
A solidão está à venda.

A cidade estampa num cartaz
O desejo impuro de viver em paz.

(In: Versorragia Verborrágica - 2006/2011)

2 comentários:

  1. Interesante. Me gusto. Un placer visitarte. Te envío un cordial saludo deseándote un buen día.

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  2. Muchas Gracias, Darwin! Abraços. Vôgaluz

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