Eu tinha apenas nove anos
quando soube que partiste,
já são tantos os enganos
que hoje sei o quanto existes
nas músicas que ficaram
como se em placas de pedra,
que ninguém mais interpreta,
pois as vozes se calaram
abafadas pela tua
voz marcante, quase crua,
sentimento à flor da pele
da mulher que nada deve
às deusas das várias épocas
da música mundial,
comoventes flores bélicas
de existência visceral.
No teu sorriso gostoso
havia um falso brilhante
de uma tristeza gritante
tal qual vulcão em repouso.
És uma estrela no céu,
nos palcos da eternidade,
um barquinho de papel
que as águas todas invadem.
Chegaste ao fim do caminho
e cedo demais deixaste
todos nós sem teu carinho
e a alegria que guardaste.
Elis, só agora te entendo,
depois destes longos anos,
cada vez mais me envolvendo
com os teus doces encantos,
que foste embora depressa
levando os sonhos que vagam,
porque todo show começa
pelas luzes que se apagam.
(In: O Perfume do Tempo - 2004/2005)